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Foto do escritorTatiane Camurugy

Os perigos da automedicação

Atualizado: 1 de mai. de 2020

Texto em colaboração com Dra Nathalia Campos**

Quem nunca tomou um remédio sem prescrição para uma gripe ou uma dor de cabeça? Ou pediu aquela indicação de remédio pra rinite pro vizinho? A automedicação é prática comum no nosso dia-a-dia , muitas vezes vista como uma solução fácil para um alívio imediato, porém não é isenta de riscos e pode trazer consequências mais graves do que se imagina.  Certamente você já ouviu a célebre frase de Paracelso, médico suiço-alemão do século XIII: "o que diferencia o veneno do remédio é a dose". Faz todo o sentido! Uma medicação administrada fora da dosagem ideal ou por via errada (aplicar na veia uma medicação que ter sua aplicação no músculo, por exemplo) pode transformar um inofensivo remédio em um tóxico perigoso. Quem não lembra da tragédia da talidomida na década de 60? Era uma medicação prescrita a grávidas para minimizar os enjoos e fez nascer toda uma geração de crianças com malformações em membros, entre outros problemas. A partir daí o olhar para os possíveis efeitos colaterais das drogas veio ganhando os holofotes da comunidade científica, mas ainda assim pesquisam mostram que 77% dos brasileiros tem a automedicação como hábito comum. Outra importante situação a ser discutida é a possibilidade de interações entre os medicamentos utilizados por aquele indivíduo: as ações dos medicamentos podem ser potencializadas- bem como seus efeitos colaterais-, diminuídas, modificadas e assim trazer malefícios. Exemplos de efeitos colaterais de medicações amplamente utilizadas em nosso dia-a-dia:

AAS (ácido acetil salicílico): se utilizado em concomitância a uma infecção viral pode causar a Síndrome de Reye (distúrbios no cérebro e fígado), principalmente nas crianças.

Antibióticos: podem levar a resistência bacteriana, fazendo com que aquela bactéria não mais responda àquela droga. Desregularam a flora intestinal e podem causar vômitos e diarréia. Além disso tem uma classe de antibiótico que pode se utilizada sem orientação pode lesionar células auditivas, fazendo com que haja perda auditiva.

Antigripais: A maioria deles contém mais de uma medicação, dentre elas uma medicação que tenta melhorar quadro de o entupimento nasal, os descongestionantes. Porém essa medicação é especialmente perigosa em quem tem problemas cardíacos podendo precipitar quadros de arritmia, aumento da pressão arterial.

Antihistamínicos: são destinados para amenizar crise alérgica. Porém nem todo nariz espirrando ou corizando é alergia. Quando utilizados em um quadro de infecção respiratória, podem espessar o muco e diminuir a capacidade de eliminar secreções.

Antiinflamatórios (cetoprofeno, nimesulida, etc): Podem causar danos a mucosa do estômago, gastrite e até úlcera, bem como danos ao funcionamento dos rins.


Antivertiginosos: muitos causam sonolência e alguns podem levar a um parkinsonismo medicamentoso.

Cloroquina: arritmias, distúrbios visuais, e há relato inclusive de zumbido, perda auditiva e até de vertigem, na qual denominamos de ototoxicidade.

Corticóides: a depender da dose e do tempo utilizado não só pode aumentar taxa de açúcar no sangue (glicemia), levar ao acumulo de gordura no corpo, mas também pode diminuir a capacidade de defesa do sistema imunológico, precipitar quadro de catarata e em crianças pode até atrapalhar taxa de crescimento.

Paracetamol: Pode levar a hepatite medicamentosa e em alguns casos até a insuficiência hepática fulminante. "Ah, Doutora, estou com receio de sair de casa para uma consulta por conta da pandemia pelo coronavírus mas queria amenizar esse desconforto na garganta, posso tomar do remédio que funcionou pro meu vizinho?", é o tipo de pergunta que vem se tornando mais frequente nas nossas redes sociais, e-mail e celulares. O que serve amenizar a irritação da garganta de Chico, pode fazer com que o rim de Francisco deixe de funcionar. 

Tratamento farmacológico é um assunto super sério, que não dá para compartilhar a responsabilidade com a vizinha, a avó ou com o balconista da farmácia. Medicação incorreta pode mascarar um sintoma, atrasar um diagnóstico e em casos extremos pode até matar.

É para isso que nós médicos estudamos, estudamos e estudamos. Precisamos nos apoiar na ciência, ela tem que ser nosso norte.

Para instituir terapia farmacológica precisamos antes e tudo diagnosticar. Os diagnósticos podem se assemelhar, e o médico é o profissional habilitado para saber diferenciar, por exemplo, uma rinite de uma infecção respiratória, cujo o tratamento é completamente diferente.

A partir do diagnóstico escolhemos o melhor tratamento para aquele perfil de paciente. Não há receita de bolo, cada caso tem que ser avaliado individualmente para conduzirmos com a responsabilidade que o tema nos exige. 

E não poder sair de casa não é desculpa hoje em dia, há inúmeros profissionais que estão realizando teleconsulta após a liberação do CFM.

Portanto, evite peripécias farmacológicas e procure o médico de sua confiança, ele, certamente, estará disposto a te ajudar.


** Médica Otorrinolaringologista pela USP, título de especialista pela ABORLCCF


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